segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mais uma da série "a revolução da terceira idade"

Vejam esta matéria publicada dia desses pelo jornal Correio Braziliense. Trata-se de mais uma evidência de que, mesmo que a passos ainda lentos, a sociedade já começa a enxergar a terceira idade como uma etapa da VIDA, época a ser vivida plenamente como todas as outras, em sua plenitude e sem limitações. Apesar do texto tratar de um assunto delicado, que, geralmente, traz sofrimento emocional às famílias, é uma prova concreta da mudança de comportamento mais que positiva pela qual estamos passando. Vejam se concordam e não hesitem em comentar!
Sem medo de recomeçar

Casais idosos cada vez mais optam pela separação e pelo recomeço na terceira idade. Histórias que inspiraram uma escritora norte-americana a conhecer quem são essas pessoas nos quatro cantos do mundo
Caroline e Ted foram casados por 53 anos. Um feliz casal de terceira idade. Até o dia em que, depois de enfrentar uma complicada doença nos rins, Caroline decidiu se separar. Depois de um delicado transplante, a primeira coisa que lhe passou pela cabeça foi que estava perdendo o resto de vida que teria ao lado de alguém que não a fazia mais feliz.A história, retirada da obra da escritora norte-americana Deirdre Bair, é apenas um entre os milhares de relatos reais de pessoas que decidem recomeçar após os 60 anos. O livro "Começar de novo — O divórcio na terceira idade" reúne depoimentos de quase 400 pessoas que viveram separações. Maridos, mulheres e filhos adultos americanos, canadenses, australianos, europeus e asiáticos foram entrevistados durante dois anos de pesquisa.

No Brasil, o divórcio na terceira idade tem crescido mais do que o número geral de separações e divórcios em outras faixas etárias. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e IBGE, em quase 10 anos, houve um aumento de 9,1% no número de separações e divórcios realizados no país: cerca de 441 mil, em 1999, e 482 mil, em 2008. Desse total, o número de pessoas que decidiram encerrar seus relacionamentos após os 60 passou de 14,3 mil para 25,5 mil no mesmo período — um aumento de 79%.

Vany Chagas Jacinto faz parte dessa estatítica. Bem educada e culta, a jovem de 21 anos se casou com Sebastião Jacinto em 1955. Ajudou o marido a cuidar da fazenda da família enquanto dava aula para as crianças que viviam nas redondezas — filhos dos colonos que trabalhavam no interior de Franca, São Paulo. Quando o marido precisou vender as terras, passou a criar os sete filhos sozinha para que Sebastião pudesse ganhar a vida como administrador de propriedades rurais pelo Brasil afora. Foram mais de 10 anos recebendo o marido de meses em meses, quando retornava das longas viagens a trabalho.

A distância talvez tenha ajudado Vany a ignorar o fato de Sebastião ter sido infiel durante os 38 anos de união. Filho de rígido militar, ele sempre fora um homem de poucas palavras, muitas regras e disciplina com os filhos. Diferente de Vany, não entendia de artes e música. Um homem simples, criado em um ambiente onde era normal ter vários relacionamentos paralelos ao casamento. Por conta dos casos do marido, o casal brigava por dias. Mas, no final, tudo voltava à rotina. “Eu não tinha tempo para isso”, justifica Vany.
Enquanto o marido viajava, Vany criava os filhos, trabalhava e estudava. A estabilidade do casamento acabou em 1992. Quando o filho Rafael Jacinto sofreu um acidente grave nos Estados Unidos, onde morava e trabalhava, Vany viveu no país durante três meses, tempo que ele levou para sair da UTI. “Quando retornei de viagem, nossos amigos e parentes estavam comentando o comportamento de Sebastião. Ele andava o tempo todo com essa nossa amiga, Maria Lúcia, de quem administrava a propriedade. Quando cheguei, ele tinha deixado nossa casa para viver na fazenda dela”, lembra Vany. A união com a amante não durou muito tempo. Em cerca de três meses, Sebastião se mudou para a casa de uma das filhas. “O tempo que meu pai passou com minha irmã foi uma experiência desastrosa”, conta Ana Maria Jacinto Elias, 47 anos, filha do casal.
Sentindo-se responsável pelo marido, que não tinha renda fixa, Vany decidiu entregar a Sebastião umas das conquistas do casal. “Nós tínhamos duas casas. Uma maior e outra menor, ao lado da que morávamos, que costumava ser alugada, como renda extra. Quando nos separamos e ele ficou sem ter onde morar, resolvi lhe oferecer a casa”, relembra Vany. Deixaram de ser casados para se tornarem vizinhos.
No início do processo de divórcio, alguns filhos questionaram Vany sobre a necessidade de oficializar a separação. Apoiada pela mãe, ela já tinha sua decisão tomada: não queria o marido de volta. Ana Maria conta que todos apoiaram a mãe. “O divórcio foi apenas uma consequência de algo que já acontecia há anos. Fiquei aliviada quando minha mãe decidiu pela separação. Meu pai sempre foi muito ausente por conta das viagens, e, talvez por isso, muito distante e mulherengo. A vinda dele para casa não era uma coisa positiva, não havia entre nós um laço paterno forte. Todos já tinham sofrido por tantos anos, que a separação foi a parte mais fácil de todo o processo”, lembra Ana Maria.
Vany acredita que a melhor coisa que fez por ela foi se separar. “Quando paro para pensar, não sei como vivi uma vida assim.” Quando questionada se sente falta do ex-marido, a aposentada é categórica: “Como posso sentir falta de algo que nunca tive? Meu marido nunca esteve por perto me dando atenção. Quem dera eu fosse dessas mulheres paparicadas pelo marido. Não sinto falta das conversas porque elas nunca existiram.”

4 comentários:

Noemi Maria disse...

Houve um dia que só a morte separava os casais, mas isso só vale pra igreja católica. Acho que hoje em dia os casais idosos se separam por causa muitas das vezes da falta de amor, que vai acabando com o passar do tempo. mas é muito difícil ver no final da vida que não é mais feliz com aquela pessoa. E vai mudar pra que? Pra solidão? Ou para aventura?

Jurema Nunes, aposentada disse...

Minha cara Cristiane, não sei se pode ser uma tend~encia essa onda de casais com mais de 20, 30 anos de convivência se separar, agora. mas mesmo assim acho que a família é indossolúvel e é célula-mater da sociedade. Sei também que sem família não vai haver sociedade séria e sim o caos.

Anônimo disse...

Parte de uma matéria do jornal Diário de Pernambuco. Abraços, Maria Antônia

O advogado Frederico do Valle, especialista em direito civil, conta que, em todos os casos de divórcio que acompanhou entre pessoas com mais de 60 anos, nenhum envolveu dramas morais ou psicológicos, como agressões ou traição. "Acredito que a maioria vive o desgaste causado pelo tempo de relação e, ao se separar, quer aproveitar tudo o que conquistou." Para Coelho, é a partir dos 60 que esses casais começam a questionar suas necessidades pessoais. "As pessoas se dão conta de que a terceira idade não é a última fase da vida."

João Francisco disse...

A postagem da Maria Antonia, com matéria do jornal de Pernambuco, é verdadeira sim. Mas, também como advogado que sou, tenho visto que muitos casais estão se separando, mas, mais por iniciativa do conjuge masculino. Alguns casos acontecem porque o idoso quer regularizar uma situção com relacionamento extraconjugal, com pessoa mais jovem do que a companheira.