"Ao longo dos
quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o governo
investiu em uma receita heterodoxa (as chamadas “medidas macroprudenciais”) que
vendia como solução para enfrentar os efeitos da crise internacional iniciada
em 2008, ainda no governo Lula. De início funcionou, mas com o tempo foi
perdendo força, com seus efeitos se disseminando por toda a cadeia produtiva na
forma de pressão inflacionária. Para bancar gastos com os quais não podia mais
arcar, o governo deu de “maquiar” as contas públicas para mostrar um cenário
que não era real. Na verdade, era necessário que o governo começasse a
retroceder, adotando medidas mais sérias de controle da inflação, como a
contenção do gasto público.
Mas era eleição, e a presidente Dilma
escamoteava, insistia em dizer nos debates na TV que o candidato do PSDB, e não
ela, iria adotar medidas recessivas de ajuste - aumento de impostos, cortes de
verbas públicas, redução de direitos de trabalhadores etc - que todos sabiam
necessárias. Até ela.
A bronca geral veio com a mudança
radical de postura da presidente após ser reeleita. Chamou um ministro da
Fazenda - Joaquim Levy -, que integrou a equipe do candidato que ela disse que
iria mexer nos direitos dos trabalhadores; o que ela não faria nem que a “vaca
tossisse”!
Agora precisa aprovar no Congresso
medidas que jurou que nunca tomaria, e justo no momento em que a relação com o
Legislativo está esgarçada. Além de enfrentar o maior escândalo de corrupção da
história do Brasil, quiçá do mundo!
Como
complicador, além de reconhecidamente Dilma não ter traquejo, nem apetite, para
a articulação política, ela montou uma articulação extremamente inábil, que não
consegue nem convencer os companheiros de partido que o ajuste fiscal é
necessário para recolocar a economia nos trilhos. Com os presidentes das duas
Casas do Congresso – Câmara e Senado –, então, não há o menor entendimento.
E
vivemos hoje duas crises gêmeas – a política e a econômica. Com desfecho
imprevisível. Isso sem falar que a falta de habilidade da presidente e do
governo em se relacionar com o Congresso ainda acrescenta uma sensação de
insegurança ao mercado, que fica sem saber se o discurso de austeridade do
governo pode ser aplicado na prática ou se é só discurso.
No
cenário atual, mesmo a alta do dólar não deve resultar em grande benefício para
a indústria por conta da já sabida concorrência com produtos chineses no
mercado global. Por outro lado, a esperada queda de consumo interno, resultante
da piora esperada da economia nacional, deve impactar também as vendas da
indústria.
A
própria presidente afirmou em cadeia de TV, no último fim de semana, que os
resultados do ajuste devem ser sentidos ainda este ano. Só espero que o
resultado não seja um aumento na taxa de desemprego e uma retração ainda maior
da economia que especialistas já preveem como estagnada em 2015.
Nesse
mar de incertezas, nosso partido, o PTB, trabalha com apenas uma certeza: a
economia brasileira precisa de correção de rumos, é verdade, mas não poderá
fazê-la à custa do trabalhador.
Uma
coisa é certa, o PTB não vai deixar o governo mexer no direito dos
trabalhadores. Não vamos deixar que aqueles que trabalham sejam as vítimas
desse embuste eleitoral."
Cristiane Brasil.