Ainda sobre a guerra suja do Rio, em que traficantes, milícias e tropas do estado disputam o espaço urbano, tendo uma população de milhões de cariocas no meio, é fundamental que os governos reconheçam que a crescente favelização do Rio é componente fundamental para o estado crítico a que chegamos. Pouca gente se deu conta ou insiste em não enxergar que a falta de uma política habitacional para baixa renda é, se não o maior, um dos principais fatores para a desordem urbana, que tem na violência uma de suas consequências.
Na verdade, a cumplicidade tolerante de alguns governos para com as invasões e construções irregulares resultou em complexos inexpugnáveis em praticamente todos os bairros da cidade. São labirintos de previsíveis consequências de degradação ambiental, que contribuíram para o atual estágio de caos social. São populações inteiras sob o julgo de gangues, que cresceram com a complacência e até parceria do Estado, que insiste em tratar a violência pública unicamente como assunto de polícia.
É preciso atentar também para as políticas inicialmente postas em prática, em passado recente, para transformar favelas em bairros, que acabaram por multiplicar e institucionalizar a desordem urbana. Basta ver o que aconteceu com históricos e bucólicos bairros dos subúrbios da Central ou da Leopoldina, que se transformaram em bairros-favela, tal o graude degradação e abandono que atingiram, por causa de posturas no mínimo demagógicas de autoridades egocêntricas e populistas.
Na verdade, tais políticas só serviram a grupos de oportunistas que comercializam e sobrevivem das carências e ignorância das massas, supervalorizando migalhas assistencialistas, num primeiro momento simpáticas, mas que, na verdade, eterniza a acomodação de quem só tem a esperança por salvação.
Aliás, pouca gente se deu conta que talvez esteja sendo preparado o terreno fértil para aventuras pouco ortodoxas sob a bandeira de se resgatar a justiça social. Sabemos que os primeiros passos para tal consistem na desmoralização das instituições juntamente com incentivos à tensão social, práticas estas que já fazem parte do nosso cotidiano há tempos.